sexta-feira, 2 de março de 2012

Wanessa Queiroz

ano bonito e cheio de descobertas; creio que a maior dentre elas foi de ser vista como um pequeno ‘’gênio’’ pela minha vizinha – que era professora. uma professora muito dedicada e amiga, que não podia ter filhos e por isso tinha um amor incondicional por todas as crianças do bairro, inclusive seria de bom tom falar que ela foi a primeira professora de todas elas. certo dia ela perguntou para minha mãe se podia começar a me ensinar o alfabeto. ela sabia (de alguma forma extremamente bizarra, pois devia ficar me observando quando eu saía – e eu nunca saía) que eu tinha potencial para aprender e que eu tinha uma curiosidade incomum por ficar folheando certos livros e jornais da época, enfim, por letras. eu tinha apenas 4 anos e tive o consentimento dos meus pais para ter aulinhas de alfabetização todas as manhãs durante uma hora com a professora maria, que pouco tempo depois entrou pra família e é conhecida até hoje como tia maria. enfim, tive avanços assustadores, consigo lembrar de pouquíssimas coisas agora, mas nunca esqueço de um momento em especial na qual ela me mostrava um livro com letras grandes e sem nenhuma figura e dizia pra eu ler o que estava escrito numa determinada página, e que eu teria que escolher a página e o texto a ser lido. o livro era enorme e todo em preto e branco, parecia muito desinteressante à primeira vista, mas consegui encontrar um textinho mediano e lembro até hoje da primeira palavra que vinha no título com letras maiúsculas e das risadas em conjunto que vieram depois: MARIA; essa mulher que durante quase seis meses me fazia uma criança feliz, só por me mostrar o que os outros não eram capaz de ver em mim. eu, uma criança que não tinha amigos, apesar de viver rodeada de crianças. uma criança que saía com um caderninho amarelo com bolinhas pretas na capa em direção à casa ao lado pra aprender a ler e a escrever como se fosse participar de uma competição de quem come mais jujubas em menos tempo. uma criança que no ano seguinte fez um teste pra provar que a mãe não estava mentindo, mas ela tem só 5 anos, dona Cecília. entrei e estou na escola até hoje tendo que ouvir mas você era muito nova sempre que digo ter terminado o ensino médio com 15 anos.  um exercício de paciência que cultivo, mas logo logo responderei apenas com: eu devia era mandar todos vocês pra casa da tia maria.

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